O azul, o mar, as estrelas

É preciso esta música para ler esse texto.

Eu nadava e nadava. Era um grande mar, azul e infinito. O céu também era azul, sem nuvens, sem estrelas, só azul. E ali eu nadava e nadava para "lá", seja lá onde quer que "lá" fosse. A água era salgada, minha garganta ardia, meus olhos ardiam, minha boca estava seca, minhas mãos enrugadas e tudo doía.  Acabou a força e eu não chegava em lugar algum. Comecei a boiar e olhar apenas para cima. Só havia azul, etéreo e virginal azul. Me senti minúscula, vazia, sem fim. Nada mudou, nada mudava, só era. Quem eu era? Onde estava? O quê eu estava fazendo? Azul. E eu vi, fraca, uma luzinha. E outra e outra. Estrelas. Eu sorri. Mais apareciam e mais eu sorria. "Que bonito", eu pensava. Naquele azul todo, finalmente eu via estrelas. Mas isso não podia me fazer esquecer do que havia abaixo de mim, o sal e a água. As ondas me sacodiam e me lebravam de onde estava.  E por muito tempo fiquei assim, admirando distante. Por algum tempo pareceu bastar. "Nunca vou chegar naquelas estrelas", pensei, "acho que pertenço aqui. Seria melhor que não houvesse nada ao invés de coisas intocáveis." Mas no fundo, eu não acreditava de verdade naquilo. Assim, algo se espalhou pelo meu corpo. Saia do meio do peito e ia para as extremidades, preenchendo. Não tirava os olhos delas. Algum tempo depois, vi outra luz, mais baixa, do lado esquerdo. Pisquei os olhos, era forte e grande. Um barco. Estavam me procurando? Alguém sabe de mim? Era branco, cheio de canos e havia alguém lá, apontando. Para mim? Só havia eu. Voltei a nadar, o mais rápido que pude em direção a ele. Cheguei bem perto e ouvi: suba!! Era uma pessoa de verdade, de carne e osso. Tinha um coração e sangue nas veias. Eu nem acreditava. Não era mentira, nem ilusão, nem delírio. Subi e me sequei. A pessoa me olhava, bem dentro, me trespassava com os olhos. Quem era? Olhava de volta, aturdida. Tive um pouco de medo, mas por nada, ela não dava medo. Sair da água dava medo. Mudar dá medo. Desviei os olhos e olhei para cima: "mas um dia eu ainda chego perto daquelas estrelas." A pessoa sorriu, num ar de confirmação. Sorri de volta. Já a amava. Fomos embora para as estrelas.

Comentários

brunasilveira disse…
que coisa linda! acho que sei quem é essa pessoa!

Postagens mais visitadas