O Hobbit

parece, sempre, fim de namoro.
às vezes é um alívio, mas muitas vezes é uma dor ruim. vixe.
dessa vez eu já sabia que ia ser assim, desde a primeira linha. afinal, é tolkien.

reli "o hobbit" esses dias. quer dizer, esses meses, mas só terminei há poucos dias.
foi interessante, e dizer adeus foi pior que da primeira vez. a maior diferença foi que bilbo, ao invés de ir em sua própria aventura, comigo em sua cola para saber o que iria acontecer, parece ter segurado minha mão dizendo: "vem comigo aprender umas coisas."
na verdade, acho que o mais certo seria dizer que gandalf disse: "vai com ele aprender umas coisas."
é...ele falou pra mim, ele me chamou, ele insistiu mesmo diante de minha recusa. finalmente Gandalf conseguiu que eu fosse.
e ai bilbo foi também. mas ele me ultrapassou...ele foi na frente e cruzou florestas, subiu montanhas, desceu até as profundezas, ganhou um anel, fugiu do inimigo, se viu sem o mago por perto, se sentiu sozinho com 13 anões do lado, ficou invisível [muitas vezes preferia assim, se salvou por estar assim], salvou os amigos umas 300 vezes, quis voltar pra casa todos os dias, sonhava com ela todos os dias, sentiu frio, fome, cansaço, caminhou meses, viu o mundo, enganou o dragão, ganhou um tesouro, abriu mão dele, voltou a encontrar o mago e no final, admirado porque todas as antigas histórias se tornaram reais, ouviu a seguinte coisa:

"Com certeza você não deixou de acreditar nas profecias só porque contribuiu em parte para realizá-las? Você não acha, não é mesmo, que todas as suas aventuras e fugas foram conseguidas por mera sorte, apenas em seu próprio benefício? Você é uma ótima pessoa, Sr. Bolseiro, e gosto muito de você; mas, afinal de contas, você é apenas uma pessozinha neste mundo enorme!"

é Gandalf. tem dia que a gente esquece que somos pessoazinhas de nada neste mundo enorme e achamos que somos o centro de todas as coisas. eu tenho muita vontade de voltar pra casa enquanto estou nessa aventura. todo dia eu penso em voltar, em minha cama confortável, em bolsão. e eu nem cheguei na floresta velha pra escapar dos throlls ainda, mas já sinto que, às vezes, você se foi pra resolver suas coisas no sul, me deixando só com um monte de anões. ou pior, parece que às vezes eu pulo direto pra dentro da montanha, pra um túnel escuro, armada apenas com um punhal que brilha. só que é aí que penso exatamente o que bilbo pensou:

"Voltar?" pensou ele. "Não adianta nada! Ir para os lados? Impossível! Ir em frente? A única coisa a fazer! Adiante, então!"

tem vezes que eu não tenho a menor ideia do que eu vim fazer aqui...e parece mais que eu vim perturbar, atrapalhar a vida das pessoas. tem dia que eu faço as pessoas que eu amo chorar. na minha cabeça não há motivos pras pessoas não pensarem que eu deveria voltar ou que eu nunca deveria ter vindo junto com eles. só que você não pensa assim, Gandalf. você diz:

"Eu o(a) trouxe, e não trago coisas que não são de utilidade."

você sabia que bilbo não ia voltar o mesmo. que ele iria crescer. você sabe que eu estou crescendo. mesmo pequenina, mesmo de um lugar insignificante, mesmo tendo te convidado apenas para uma coisa agradavelmente besta como um chá, achando que tinha todo o tempo do mundo, você marcou minha porta porque sabia.  e essa marca mudou minha vida.

aprendi muito com bilbo. aprendi que sair da confortável vila dos hobbits não é fácil, principalmente sem um lenço, sequer, no bolso. descobri que eu mal saí do dragão verde e acabo de avistar uns throlls...
mas o maior aprendizado de todos foi finalmente entender bilbo...
...que bilbo sou eu.

O Hobbit -  J. R. R. Tolkien

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