Verter-se para dentro
Deus me dê
sabedoria.
Então assim se dão
as relações humanas...
Estive pensando: por
que estou indo a um psicólogo? Porque preciso conversar.
Que interessante,
não? Principalmente quando você vive numa sociedade, ou comunidade, relacional.
Mas que relacionamento é esse? Do bom dia? Do boa semana? Do bom domingo?
As relações se
tornaram exatamente isso daqui. Um blogger. Uma grupo no facebook. Um sms.
E assim que você
chega em casa, todos estão ligados em algum tipo de parafernália tecnológica,
preferível em detrimento a uma conversa. Como ouvi esses dias na aula, usamos
isso para fazer barulho, para evitarmos aquela coisa difícil que é conversar e
se exteriorizar.
É. Eu preciso de uma
psicóloga. Ela é obrigada a me ouvir. Eu estou pagando. O relacionamento reduziu-se ao consumível. Desculpe-me, me
equivoquei... Isso não pode ser relacionamento.
E apesar de estar
cada vez me irritando mais e mais com isso, ainda assim é minha única
ferramenta relacionamental. Todos os relacionamentos que tinha, e tenho, de
conversa tem se resumido a isso. Quando você de fato encontra as pessoas elas
sorriem, ela te dão bom dia, elas são legais contigo. Elas até te dão coisas,
mas não há tempo para o aprofundamento.
Quem elas realmente querem se relacionar, perto ou longe, preferem se
encontrar numa tela. É mais legal.
Estava conversando
com a tal psicóloga e eu vi meu mundo ruir quando ela me considerou
introvertida. Eu pensei: "não. Impossível. Eu sou tão espontânea".
Sim, espontânea, não extrovertida. Mas pensei direito nessa palavra e sobre
mim. Intro-vertida, vertida para dentro. Não tímida, não calada, não quieta.
Vertida para dentro. Sim, eu brinco, falo alto, me exponho demais...mas sou
introvertida. Eu estou dentro e não saio. Exceto, quem sabe, nas muitas vezes
que transbordo. Mas aí só saem lágrimas. E aqui. Na minha particular
parafernália tecnológica.
E eu sinto toda a
força desse isolamento tecnológico hoje. Eu não estou acostumada a ele. Eu
estou acostumada a muita gente junta, jantando junta, conversando à noite antes
de dormir. Estou acostumada a carinho. A apagar a luz e, de tanto rir, demorar
uma hora ainda para dormir. Eu estou acostumada a brigas do nada por causa das
muitas opiniões divergentes, mas resolvidas imediatamente [ou não]. Estou
acostumada a falta de internet e televisão a cabo, e ter apenas cds velhos,
tias, grama e cachorros para passar o dia. Se Deus permitisse eu trocaria tudo
por isso novamente, mas acho que não.
Então, verto-me para
dentro junto com todos os outros que se vertem para dentro. E assim vivemos
nossas relações virtuais.
Interessante notar
que nem é tão difícil sair para a vida real. O problema é que você fica só aqui
fora porque todos estão sós lá dentro. Me irrita querer sair do facebook pra
sempre e não poder porque meus amigos estão todos lá e não aqui. Me irrita por
que isso reflete na vida cristã irremediavelmente e ninguém nota. Só os velhos
se salvam. Eu não tenho chance? Não há salvação para essa geração que me pariu,
que é completamente apática. Que não vai deixar nada marcado na história. Que
está total e completamente entorpecida por essas telas brilhantes cheias de
nada.
Às vezes fica tudo
tão solitário que o muito parece cheio de vazio. Um monte de carros e casas e
quartos e paredes e padarias e mercados vazios...
Só há cachorros na
dogtown.
Só há melodias na
igreja.
Só há quartos na
casa.
Esperança há. Não na
vida.
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